![]() A verdade absoluta.
A meu ver, é o egoísmo e a hipocrisia que fundamentam os sofismas que são criados para a compreensão (ou não compreensão) de certos termos. Hoje, não sabemos mais o que é, por exemplo, verdade, o que é justiça porque todos os conceitos são relativizados: tudo se tornou uma questão de "opinião", de "ponto de vista". Ocorre que determinados atos podem até ser tolerados ou mesmo aceitos pela sociedade, mas não deixarão de ser para esta perniciosos. Se, porventura, o homicídio, o roubo, o estupro, a corrupção passarem a ser tolerados ou mesmo aceitos pela sociedade, e a impunidade os beneficiar ou as leis não mais lhes cominar pena alguma, eles continuarão a ser nocivos para a sociedade – mesmo que esta disso não se conscientize. Não se trata de um olhar etnocêntrico, ou de um pensar religioso ortodoxo: qualquer grupo social, qualquer sociedade que não impeça que a violência se difunda, que a desonestidade se generalize condena a si mesma à extinção. Matar é tipificado como crime nas leis penais não porque, simplesmente, também o foi no Decálogo Mosaico - pois mesmo que se trate de uma sociedade ímpia, o homicídio é um ato extremamente prejudicial ao homem, seja individual ou coletivamente considerado. E é prejudicial não só para a vítima, como também para o agente. Vários impérios, militarmente invencíveis, foram levados à ruína por suas próprias injustiças. Inúmeras civilizações já desapareceram (algumas sem deixar vestígios), porque não souberam identificar ou não tiveram a humildade de reconhecer que determinados costumes, determinadas práticas, determinados conceitos estimulavam a violência, gerando na sociedade insegurança, revolta, desagregação. A destruição sobrevém como se fosse "castigo dos Céus", mas é tão-somente a conseqüência da adoção de sofismas, de raciocínios capciosos, elaborados com a intenção de enganar, e que, quando postos em prática, revelam-se nocivos e ruinosos. O motivo de criminalização de determinados atos, práticas e costumes não está em serem eles contrários a Deus, desafiadores da autoridade divina e contestadores de suas leis. Mesmo numa sociedade ateísta, ou os crimes contra a vida, contra a honra, contra a propriedade (material, intelectual etc.) são coibidos, ou a degeneração social sobrevém, com a conseqüente desagregação e afastamento ou eliminação dos melhores cidadãos. Uma sociedade dominada por ladrões, assassinos, estupradores – mesmo ímpia – é uma sociedade instável, não produz conhecimento, não gera riquezas, não permite o convívio sadio entre os seres humanos, inviabilizando completamente o viver pleno e digno. Determinadas práticas, portanto, independente de religião ou cultura, são prejudiciais ao indivíduo ou à coletividade – mesmo que o ignorem ou não aceitem - e até as considerem tradições a serem eternizadas. E é em defesa da espécie humana, para que esta seja preservada, para que seja possível a sua perpetuação sobre o orbe terrestre, que determinadas condutas são consideradas crimes pelos legisladores, juristas e pensadores. As sociedades que mais cedo as identificam e reprimem de modo eficaz são as que oferecem melhor qualidade de vida aos seus membros. E a qualidade de vida não está na opulência, no fausto, nem se limita à riqueza – mas tem sua fiel expressão na vida digna, livre de mazelas oriundas da pobreza ou miséria (como, por exemplo, as doenças provocadas pela falta de saneamento básico), no respeito mútuo entre os seres humanos, na confiança de todos para com todos - que ocasiona não só a "sensação" de segurança, mas a firme certeza de nenhum risco – pois este, efetivamente, inexiste. Tudo isso contribui para uma boa saúde (pois o ódio e o medo, por exemplo, são causadores de inúmeros distúrbios orgânicos que terminam por ocasionar graves doenças). Se sentindo seguro, respeitado, com saúde, podendo estudar e trabalhar - torna-se muito mais provável que o cidadão mediano, normal, alcance o bem da vida. Em verdade, só a sociedade que propicie a todos os seus cidadãos respeito, segurança, saúde, para que possam estudar e trabalhar, produzindo continuamente conhecimento e riqueza pode considerar que alcançou um verdadeiro estado de progresso social, pode reivindicar para si um alto grau de desenvolvimento, civilidade e evolução. Embora alguns historiadores defendam que o surgimento de uma grande civilização depende do progressivo acúmulo de recursos naturais e poder bélico, isso apenas não bastou para que grandiosos impérios assim se perpetuassem no decorrer dos séculos. Mesmo que os recursos naturais se traduzissem em magnificência, que inúmeros bens fossem fabricados, que refinado conhecimento e alta tecnologia fossem criados por mentes prodigiosas, que se detivesse o maior dentre os maiores poderes de guerrear e dizimar os inimigos, esses impérios semearam a própria derrota ao adotarem o egoísmo, a soberba, a ganância, a hipocrisia, as injustiças. Antes invencíveis, muitos terminaram por ser derrotados e dominados por povos muito menos avançados. Grandes impérios sempre foram derrotados por raciocínios distorcidos, sofismas que os levaram a decisões errôneas e a enormes injustiças – para com seu próprio povo e/ou para com os povos dominados. Portanto, a verdade existe e quem a despreza ou dela zomba não a torna inexistente: eles é que se desqualificam e desaparecem... Lia Lopes Silva
Enviado por Lia Lopes Silva em 14/07/2008
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