Lia Lopes Silva

A reflexão leva à compreensão dos fatos da vida

Textos

Se temos uma população de desnutridos e desdentados e oferecemos nozes para que se alimentem é claro que muitos esperarão que eles, por total impossibilidade de mastigá-las, continuem famintos e desnutridos. Mas a engenhosidade humana é, não raro, surpreendente, e fará com que um(uns) daqueles desdentados encontre(m) uma forma de se alimentar das nozes.

 
Claro, sempre poderemos providenciar aos que não conseguirem encontrar uma forma de se alimentar uma prótese dentária...

 

Mas, nessa situação, qual o problema principal? Eliminar por completo a desnutrição desde a tenra idade. Porém... e quanto aos jovens e adultos já desnutridos? Nenhuma medida adotaremos para, ao menos, mitigar-lhes a falta de nutrição? Estes, por já terem nascido sob o estigma da injustiça, que desde o ventre materno são vítimas da insensibilidade e indiferença da sociedade, continuarão sob esse ferrete? Continuaremos a negar-lhes a plena cidadania? Penso que isso muito mais se coaduna com as tradições do sistema fundamental do hinduísmo, que prescrevem as classes hereditárias nas quais é dividida a sociedade na Índia.

 

Tenho certeza de que nossa sociedade muito mais se aproxima da filosofia do self-made man. E os milionários, os homens bem sucedidos norte-americanos que graças ao seu próprio talento, autodisciplina, autodidatismo, persistência - e verdadeira adoração ao próprio trabalho - sentem imenso orgulho em sempre declarar que a origem de suas riquezas sempre esteve - na oportunidade que tiveram.


Os EUA foram, por um bom tempo, conhecidos como a terra da(s) oportunidade(s). São essas oportunidades - igualitáriamente oferecidas - que sempre atraíram imigrantes para determinados países do mundo (na Europa e EUA). São pessoas que fogem do total abandono a que são relegadas em seus países de origem. Ou seja, antes de dar as costas à sua nação, eles foram por ela defenestrados.

 
Uma pátria não pode se portar como madrasta para seus próprios cidadãos, pois ela é nossa mãe primeira. Todos os nossos referenciais, todas as nossas raízes estão a ela indissociavelmente ligados. Cumpre a ela, pois, dar a todos os seus filhos - desde o mais velho, até o caçula - o mesmo tratamento, como uma boa mãe procede.

Se agiu de forma injusta, parcial com alguns deles, que dê a si mesma a oportunidade de reverter o mal, ou, pelo menos, mitigá-lo, remediá-lo. Tomando, é claro, todas as necessárias providências para que aquele mal, aquela injustiça nunca mais venha a ser perpetrada contra os filhos mais tenros e os que certamente ainda estão por vir.

Lia Lopes Silva
Enviado por Lia Lopes Silva em 10/07/2008


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