Lia Lopes Silva

A reflexão leva à compreensão dos fatos da vida

Textos

“A prática da caridade pode atrair para nós o mal? Pode não atrair para nós a aprovação alheia?”

Quando decidimos ter uma determinada conduta devemos estar convictos dela, até para evitar ficarmos refém da aprovação de nossos semelhantes. E nisso os que procedem de forma prejudicial à sociedade dão exemplo de certeza do que querem aos que pretendem agir em benefício de seu grupo social, pois os criminosos não desistem de seus desígnios nem com a possibilidade de serem presos e até mortos. Assim, é mais fácil que o homem dê sua vida pelo mal do que pelo bem. Pelo bem, o homem não precisa ser ameaçado de morte para desistir: basta a maledicência. Sim, apenas palavras bastam para que o homem desista de seus bons propósitos.

Já os criminosos, nem com ameaças de irem “queimar no fogo eterno”, ou de aqui mesmo ir passar os resto da vida numa cadeia que apresente condições desumanas, ou ser morto numa cadeira elétrica, ou receber uma injeção letal, os fazem pensar duas vezes e abandonar seus desígnios, seus propósitos, seus planos. Ou seja, para os maus é muito mais prazeroso o mal, do que o bem para aqueles que em determinada fase da vida resolvem por ele optar.

É por isso que neste mundo é muito mais fácil declarar guerras do que celebrar acordos de paz; muito mais fácil formar gangues do que grupos cujo objetivo seja  promover alguma benfeitoria ou melhoramento para a comunidade; por isso é igualmente muito mais fácil que ONGs se desvirtuem e passem a ser fonte de enriquecimento ilícito de pequenos grupos que, muito antes de beneficiar os grupos que se comprometeram a ajudar, passam eles mesmos - os fundadores da ONG -, a desfilar em carros de luxo, morar em ricas mansões, freqüentar os locais mais luxuosos do mundo - tudo às custas da miséria alheia... Por isso, ao mesmo tempo que se multiplicam o número de organizações, governamentais ou não governamentais, nacionais ou internacionais, ligadas a ONU etc., mais cresce a miséria no mundo, mais aumenta a desigualdade entre ricos e pobres, enquanto as sedes daquelas organizações são erguidas nos locais mais valorizados das mais importantes capitais do mundo, construídas como se fossem palácios... E aí a culpa não é de nenhuma teoria política, nem de qualquer sistema ético, religioso ou filosófico - mas da hipocrisia: ou seja, da simulação de um sentimento louvável que na verdade não se tem.

É claro que nem todos os movimentos beneficentes nasceram sob a égide da hipocrisia. Muitos fundam organizações certos de que verdadeiramente têm amor ao próximo. Mas serão as dificuldades diárias que porão à prova a sinceridade desse amor, comprovando, confirmando seus bons propósitos - OU terminarão por desmascarar o falso benemérito até diante de si mesmo...

Algumas pessoas, durante um determinado tempo da vida – geralmente, curto – resolvem se dedicar a entregar mingau, pão e água etc. aos necessitados – sem exatamente saber o(s) motivo(s) pelo(s) qual(is) estão a praticar essas ações. Muitos parecem crer que praticando tais ações serão poupados de todos os sofrimentos da vida, da crítica alheia, inclusive. Quando percebem que não é bem assim, ou não é nada assim, se desestimulam e nunca mais praticam uma ação solidária.

Tais pessoas sabem mesmo porquê praticam essas ações - têm mesmo convicção de seus valores morais? Se a resposta for afirmativa por que, então, precisam da aprovação, dos elogios dos outros? Onde está, afinal, a felicidade dessas pessoas? São os valores morais e a prática daquelas ações que as satisfazem, que as fazem se sentir bem - ou são os elogios, o reconhecimento e a aprovação dos colegas?  Se forem estes últimos, melhor mesmo irem desfilar com o carro do ano (e da moda), ou irem para os shoppings e sairem de lá produzidas e com inúmeras sacolas. Certamente, receberão muitos elogios... Mas ainda assim, não serão poupadas de críticas, pois ou serão acusadas de frívolas, egoístas, ou terão suas escolhas reprovadas, recriminadas, etc.)

Portanto, com as críticas, com as fofocas, com a maledicência todos iremos conviver - sempre: ou aprendemos a ignorá-las, ou vamos passar a vida inteira sofrendo, nos sentindo injustiçados...

Lia Lopes Silva
Enviado por Lia Lopes Silva em 20/06/2008
Alterado em 21/06/2008


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